Luis Carlinhos

Luis Carlinhos

✎ Perfil e músicas do compositor

O início

Luis CarlinhosComecei a compor quando arrumei uma namorada. Um amor. Eu fiz a primeira música para ela chamada “Amor Jovem”. Na verdade, quando eu entrei na música foi muito espontâneo, eu sou filho de quatro irmãos, eu sou a rapa da panela, eu sou o filho caçula e fui meio que deixado de lado pelos meus irmãos.

Nessa época eu tinha uns 12 anos. Lá em casa era assim: eu não ganhava nada, eu só ganhava sobra das coisas. O último filho, minha cama era o beliche de baixo e quando os outros desciam pisavam em mim, os tênis e roupas eram todas usadas deles para mim e o violão foi o melhor presente, que eu peguei de um dos meus irmãos.

Os meus irmãos ouviam muito reggae e essa cultura do surf se unia muito com a do reggae, então os meus irmãos ouviam muito Peter Tosh, Bob Marley, entre outros, e ali eu comecei a ter acesso a essa música pop/reggae/jamaicana. Dentro de casa a minha mãe já mostrava para mim toda a MPB, eu ouvi com a minha mãe muito MPB. Ela adorava Ney Matogrosso, Elba Ramalho.

A minha mãe, a falecida Maria, era uma mulher toda para frente daquele tempo. Ela era psicanalista, fumava baseado, adorava as coisas esotéricas. Era uma mulher, para aquele tempo, muito mais à frente. Então ali eu já ouvia Ney Matogrosso, Elba Ramalho, o Milton…  que era uma entidade na época, aquela voz do Milton…

Essa foi a minha fonte: o reggae e a MPB. Dentro do Dread Lion, quando eu entrei na banda como guitarrista e depois passei a cantar, eu queria que o reggae fosse mais “MPBístico”, se eu posso falar assim, no sentido de ter mais harmonia, de ter mais o violão de nylon, de trazer um pouco mais aquelas harmonias com as dissonâncias da bossa nova, aqueles acordes com mais notas.

Então, o que eu faço? Não sei. Eu sou do reggae também. Minha música talvez tenha o reggae mais famoso “Oh, Chuva”, que não é reggae, é forró.

Sobre o processo de composição

Luis Carlinhos

 

Meu processo de composição é aquele que a gente fica tentando achar, pescar, como se as coisas já estivessem em um lugar, em uma nuvem e você tivesse que trazer elas para a materialização.

Para mim, é místico, é espiritual, é uma coisa um pouco indecifrável, mas, ao mesmo tempo, eu sou um cara racional pra caramba, eu sou um cara muito do corpo, muito físico, e, quando estou compondo, eu tento trazer isso para a matéria, mas eu não preciso fumar uma erva, estar em um estado alterado, eu preciso estar presente para o que está acontecendo.

No meu processo de composição atual, eu estou sempre tentado trazer essa coisa espontânea, mas ao mesmo tempo pensando um pouco na formação do texto, nos letristas que estão comigo, eu me considero hoje em dia, às vezes, até mais espontaneamente um melodista. Tem as questões do texto, mas às vezes eu sou mais criterioso e eu gosto de chegar naquele lugar.

Quando eu comecei a cantar, eu não cantava nada e eu comecei a estudar canto. Quando eu fui para um show com o Dread Lion, em 1993, até marquei meu começo de carreira ali e eu falo até que eu fui cruel comigo mesmo. Foi ali que eu tive a percepção, eram três mil pessoas no campo, tinha o Gabriel O Pensador, tinha o Dread Lion tocando guitarra e foi ali que eu comecei a minha carreira e eu só tocava guitarra, eu não cantava nada, mas depois eu comecei a estudar, eu fui fazer aulas de canto com Raul Serrador durante 13, 14 anos, na verdade o canto a gente nunca recebe aulas, o canto é manutenção depois de um tempo, é criação, é música nova, pegar repertório, é muito show.

Luis Carlinhos

 

 

Agora mesmo eu voltei para a escola, eu voltei a fazer harmonia, percepção e violão, lá com o Ian Guest, eu sempre volto lá. Eu acho que o estudo é muito importante e ao mesmo tempo eu acho que o mais interessante é como você aplica esse estudo, essa inteligência.

 

Música pop

A minha música é música pop, não precisa ter uma forma, um tamanho. Claro, às vezes tem uma interpretação e o disco muda, quando tem mais novidades, mais texturas, mais minha música tem o foco na canção que se fecha. Então, na hora de compor eu não penso nisso, mas tem que ter a esperteza de ver que tem músicas que são mais diretas.

Eu acho que a principal coisa está nessa fé que você coloca, você acreditar que aquilo é bom. Se você não se achar bonito, como é que o papagaio vai passar na passarela, você tem que se achar bonito. Se você gostou, mostra, toca, grava e vê como ela soa para as pessoas e ganha-se segurança. É como a leitura de aura, você valida para mim: poxa, o que você disse faz o maior sentido para mim. Você pensa: porra! Eu vou ler mais. A leitura de aura eu estou dando só como um exemplo metafórico para a minha arte. Então, é assim: acredite na parada. Eu acreditei.

Até o meu primeiro disco solo, eu ia com o disco nos lugares e depois eu fui percebendo também que tem a hora de entregar o disco, vai chegar se tiver que chegar, é muito sutil essa linha de você querer forçar. Eu lembro que quando eu chegava nos hotéis, eu colocava o meu som emLuis Carlinhos todos os hotéis, eu chegava e falava com o gerente e o meu som tocava em todos. Era demais. Mas eu acho que é isso, você tem que chegar e mostrar, para poder desenvolver isso. O Seu Jorge, por exemplo, era muito fominha, nos palcos da gente ele subia, era muito inconveniente, hoje ele é um cara que é amado e odiado. Então tudo tem o seu preço e isso depende de como você se coloca. E ele é um gênio.

O violão às vezes engessa um pouco o processo da composição, às vezes você cantarolar a música sem esse instrumento harmônico que vai trilhar você para um caminho harmônico, pode ser um bom caminho. Ao mesmo tempo, eu também acho interessante essa coisa da verticalização do próprio estilo. O Djavan é um cara que se repete, que tem uma linguagem própria. O próprio Lenine é um cara que tem um certo modo de fazer e agora ele começou a se reinventar mais largando o violão em estúdio, fazendo uns discos mais maquinários, onde o violão é reposicionado.

✎ Confira a transcrição completa da participação de Luis Carlinhos

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