Rodrigo Maranhão

Rodrigo Maranhão

✎ Perfil e músicas do compositor

Parcerias e processo de composição

A gente estava falando de parceria e eu falei que sinto uma certa inveja de quem consegue compor junto, porque quando eu vou compor o processo é totalmente individual, completamente, eu preciso estar sozinho, eu preciso estar tranquilo, de preferência até com a porta fechada. O ato de compor para mim é fazer uma coisa muito íntima, então quando eu componho em parceria eu peço que me mande uma letra, me mande um pedaço e eu vou para o meu mundinho e faço do meu jeito. Eu me acostumei a fazer música assim e talvez por saber das barbaridades desse processo, é quase um processo científico de tentativa e erro. Fazer isso com alguém, ficar errando na frente de alguém eu tenho vergonha. Então eu prefiro errar sozinho e mostrar a coisa já mais acabada.
Rodrigo Maranhão

Quando você está no processo é porque você achou uma pedra que a gente acha preciosa. Quem é compositor está sempre compondo, 24h por dia. Às vezes ele acha um brinquedo bom de brincar, eu pelo menos sou assim, e quando você está nesse processo, você tem um brinquedo e você vai para casa e tem necessidade de trabalhar com ele, ele é meio compulsivo e às vezes até meio chato, meio doloroso.

Eu já fiz três discos usando muito esse processo de compor e acho que foi bacana porque eu queria que os discos tivessem essa cara mesmo, eu queria fazer três discos de canção, a gente foi criado numa geração que ouvia e hoje já não existe mais. Então eu tinha essa necessidade do ofício de fazer canção e agora eu já vislumbro começar a aprender a compor de formas diferentes. Eu acho que é um caminho natural começar a tentar trabalhar outras formas de composição.

Eu acho que sempre que eu vou muito para um lado, eu sinto muita saudade do outro. Sempre que eu sou muito introspectivo chega uma hora que eu acho isso muito chato e eu quero que isso se exploda, eu quero ir para rua e fazer o que a gente faz na rua. Se eu fico muito tempo também na rua é óbvio que eu vou sentir falta de estar recluso. Então, eu acho que criei um mecanismo de expandir e depois se recolher. Nessas horas eu ligo para o Marcelo Caldi e falo: “Caldi, pelo amor de Deus, eu quero fazer música”, mas na realidade não é querer fazer música, eu queria voltar para aquele espírito de estudar música, de tirar as notinhas.

Quem vive de música e aprende a reconhecer os músicos e as dificuldades de ser músico, a gente passar a ter muito orgulho da nossa profissão e da nossa arte.

Eu gosto de compor sem técnica. A técnica a gente usa porque estudou, mas a técnica é simplesmente uma ferramenta e às vezes ela atrapalha muito, porque a gente pode se viciar em caminhos harmônicos, se viciar nas coisas que a gente estudou e até o nosso conhecimento passa a ser uma limitação. Eu acho que quando eu vou compor e quando sai as coisas que realmente eu gosto é quando eu vou falar sobre alguma coisa que eu gosto. Eu acho que nem é tanto pela música, eu acho que é mais pela crônica, é mais por eu querer dar o meu depoimento.

Rodrigo Maranhão 003Eu acho que o meu depoimento é uma coisa muito comum nas minhas músicas, é quase uma ode às coisas simples. Eu gosto muito de falar de coisas pequenas, até porque eu dou muita importância para essas coisas pequenas, eu acho que é o grande segredo. Eu gosto também quando a música me ajuda a encontrar algumas respostas ou perguntas. Eu gosto muito quando no meio do processo que eu estou querendo falar sobre alguma coisa, nesse processo que você está tão imerso naquilo, você começa a ter outros questionamentos e eu quase sempre paro a música antes de chegar à conclusão, porque eu acho que chegar a conclusão seria a morte do que eu estou fazendo ali e fatalmente eu não vou estar sabendo a conclusão exata. Então acaba que minhas músicas são um pouco engraçadas porque elas não têm refrão, eu descobri há pouco tempo, eu descobri que só fazia músicas sem refrão.

Para mim, a grande vitória da nossa geração é que a gente trabalha sem custo. As pessoas podem até ficar sem saber o que a gente está fazendo, mas a gente trabalha sem custo, eu acho que é uma grande vitória e acho que fortalece a nossa geração toda. E eu volto para aquele sentimento, a gente se une pelo sentimento de sobrevivência, iguais aos soldados que lutaram na guerra juntos e passaram por momentos ruins, a gente se liga e se une por causa disso. Eu acho que não tinha espaço para ninguém, era todo mundo sem espaço, isso foi bom para mim por um lado, fora que o outro lado que a gente foi para o estúdio e aprendeu a gravar, aprendeu a produzir, a gente era roadie de nós mesmos, a gente fez bloco de carnaval, a gente produziu muito pelo fato de não ter um patrão, uma empresa, uma gravadora, que era como a gente achava que era e deveria ser.

Redes sociais

Eu acho que a gente veio de um outro tempo e ainda é um processo para mim. O mundo virtual e você estar nele, usar o facebook, postar os seus vídeos, eu acho muito importante, mas eu ainda me sinto, igual à mesma questão da composição, da coisa que a gente tem que aprender a fazer diferente, a internet para mim é uma coisa que eu tenho que aprender ainda, eu não me vejo usando ela todo dia como eu poderia, mas eu acho que é um espaço onde cada um pode fazer o seu barulho. Eu gosto disso. Mas como a gente cresceu em um outro modelo eu acho difícil. Eu gosto muito de ficar sossegado e me dá muita agonia essa ocupação, as pessoas ficaram muito mais ocupadas, as pessoas ficaram mais tensas com essa questão de redes sociais e da comunicação absurda que a gente tem hoje. Eu gosto muito do outro lado, eu preciso de paz, imagina você compor um disco e toda hora chega uma mensagem. O whastapp, por exemplo, agora que eu aprendi que você pode silenciar aquele inferno.

Sucesso e genialidade

Rodrigo MaranhãoO que é sucesso para mim? Sucesso são sucessões de coisas boas, então tem que comemorar tudo, porque eu tenho que me manter compondo, qualquer coisa que acontece eu comemoro muito. Eu não sou um cara acomodado e embora eu comemore tudo, eu não quero parar aqui. Eu acho legal o negócio de fazer música, volta o negócio do medo de perder esse dom porque eu acho que a gente tem isso, pelo menos eu, eu acho que eu consigo compor porque eu consigo viver de uma forma poética, eu procuro viver de um jeito que me permita fazer poesia. Eu acho que a vida que tem que ser bonita, ela que vai me inspirar, como as coisas que você vê. O genial para mim é você se emocionar com a música e ouvir a música e todos os poros se arrepiarem, isso é o essencial ainda, só que como a gente tem tanta história por trás, é lógico que a nossa carga cultural tá junto para emocionar a gente, às vezes a gente escuta um tipo de música que aquilo te emociona porque é uma carga muito forte.

Eu só posso sentir gratidão pela música, é como se ela tivesse te devolvendo um pouquinho que você fez por ela. Quando a gente, dentro das nossas limitações, também tenta ajudar as pessoas, tenta ensinar um acorde aqui outro acorde ali, tenta dar um conselho para um menino que está começando e sonhando em ser músico. A primeira coisa que eu falo é que o cara tem que ser muito teimoso, mas quando começa vir essas bênçãos, eu procuro dizer que sempre são momentos em que você ganha e percebe que o caminho é esse e segue fazendo.

Rodrigo Maranhão

A gente sabe que todas as profissões são difíceis, mas na nossa tem dias que você está mal e mesmo assim tem tocar, é muito complicado. Então a gente tem que estar feliz. Eu acho que o maior exercício para eu me manter músico é primeiro a arte tem que ser de verdade.

✎ Confira a transcrição completa da participação de Rodrigo Maranhão

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