Edu Krieger

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✎ Perfil e músicas do compositor

Sobre a composição

Comecei a me interessar pela composição desde cedo. Quando criança, escutava com muita atenção as músicas dos compositores que se tornariam os meus ídolos, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil… a turma dos festivais. Imaginava que um dia eu pudesse trabalhar dentro dessa área e, desde que eu comecei a me interessar por música, sempre tive a composição como objetivo.

Para isso, busquei alguns caminhos e um deles foi apreender a tocar um instrumento. Considero importante, para quem quer criar qualquer tipo de coisa dentro dessa área, saber tocar razoavelmente. Eu busquei estudar um instrumento e também busquei depois me aperfeiçoar no canto.

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A minha porção instrumentista e também a minha porção cantor sempre estiveram a serviço do compositor que eu almejava ser.

A herança musical da família

Eu acho que qualquer família que tenha uma relação com qualquer profissão, ela acaba influenciando naturalmente os filhos. O meu avô paterno, Aldo Krieger, eu não conheci, mas sempre ouvi falar das histórias dele. O meu pai é maestro e obviamente nós vivíamos em um ambiente musical. Sempre houve muitos instrumentos musicais lá na casa dos meus pais.

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A música tem uma peculiaridade em relação às outras profissões. A música escolhe o profissional para trabalhar com ela. Não adiantaria nada a gente amar a música se a música não nos escolhesse também, não nos elegesse. A música escolhe os seus porta-vozes.

Os primeiros passos

Eu comecei a compor quando eu tinha 17, 18 anos, e era muito difícil para mim porque a inspiração não era suficiente. Eu não era dotado de uma inspiração divina. Então, eu esbarrei nessa minha limitação humana, nessa minha limitação real, e achei que buscar escolas de música, para me aprofundar teoricamente, poderia me ajudar; e realmente me ajudou nessa busca pelo conhecimento técnico.

A minha intuição existia, mas ela estava um pouco perdida dentro da minha ignorância, e, quando eu comecei a estudar, por incrível que pareça, ao contrário do que muita gente diz, o estudo teórico ajudou no desenvolvimento da minha intuição. É importante que exista esse tipo de busca pelo conhecimento técnico. Nunca vai atrapalhar o processo intuitivo, o processo criativo, muito pelo contrário, eu acho que ajuda muito.

Sobre o processo criativo

Edu KriegerEu cantarolo e encaixo a letra depois. Eu só sei fazer assim, fazer bem desse jeito. Mas há compositores como o Moacyr Luz, por exemplo, que pega qualquer letra de música e coloca a melodia na hora. Ele pega o texto, pega uma letra e sai colocando a música com maior facilidade. Eu não tenho tanta facilidade assim, então o meu ponto de partida é sempre a melodia. Geralmente, quando estou construindo a melodia, já me vem o esboço de letra junto, não é um “lalaiá” simples. Esse “lalaiá” já começa ter um sentido vinculado à palavra.

Agora você imagina, por exemplo, um compositor que não consegue nem colocar os acordes na própria música. Há músicas do Gonzaguinha que, se você tocar sem harmonia, você vê o quanto aquilo é simples. Uma melodia como “Sangrando”, que é linda, tem praticamente duas notas, que são as melodias trabalhadas o tempo inteiro. A emoção dessa música está muito mais na construção da harmonia e na interpretação do cantor do que necessariamente na melodia. A melodia é uma chatice! Ouvindo sem uma harmonia é chato. Então, eu acho que é um recurso que o compositor precisa ter, o conhecimento do instrumento.

Minha relação com os instrumentos é muito diferente da do Joel Nascimento e de instrumentistas como Yamandu Costa e Zé Paulo Becker, porque eu trabalho muito focado na composição, eu não preciso tanto de uma relação com o instrumento tão simbiótica como eles. Porque o instrumento musical para essa turma, que é instrumentista por ofício, é como se fosse uma extensão do próprio corpo. No meu caso, o processo criativo demanda uma relação muito mais de elaboração, de conteúdo e de letra, de busca da melodia, do que estar debruçado sobre um instrumento.

Quanto mais eu ficar em contato com o processo criativo intensamente e initerruptamente, menos resultado eu consigo. Por que eu fico cansando, tem uma hora em que não dá mais. Então, preciso arejar, eu preciso parar, eu preciso conversar, eu preciso tomar um chopp, eu preciso me desligar disso para que depois, quando eu volte à minha produtividade, esteja renovado e às vezes esse desligamento pode durar três, quatro dias, sem o menor problema, eu não sinto nenhuma culpa. Sem fazer nada, mas nada mesmo. Isso para mim é alimento. Meu material, minha ferramenta principal de trabalho é mente sã e coração desobstruído de preocupações, de tensões.

O sucesso

Eu sempre digo que o maior castigo que poderia acontecer comigo seria eu me tornar famoso a ponto de não poder mais ir ao shopping, de não poder mais entrar em um ônibus, de não poder mais ir na padaria. Porque é na padaria que estão os personagens mais legais para eu pegar como inspiração para o trabalho. É no shopping, é caminhando na praia… então, se eu tiver caminhando na praia observando o mundo, observando as relações humanas, no Centro da cidade, no Saara, observando aquilo tudo, se aquilo tudo estiver me observando também, se eu for um popstar, se eu for um sujeito famoso e aquele mundo estiver me observando, eu não vou ter mais condições de observar aquele mundo. Eu preciso estar anônimo, eu preciso esta invisível para poder observar aquilo de uma maneira natural sem que aquilo fique me observando.

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Eu sou o compositor que sou hoje em dia pela minha capacidade de observar o mundo e o seu cotidiano. Se eu perder isso, vou perder a minha fonte principal de inspiração.

Parcerias

Primeiro é o seguinte: para ser meu parceiro não adianta mandar mensagem inbox no facebook, como todo dia eu recebo duas ou três, mostrando melodias. Outro dia recebi umas quatro ou cinco melodias de um compositor mineiro, pedindo uma parceria. Eu não conheço o cara, nunca sentei com ele para conversar. Eu acho que parceria, no meu caso, parte de uma parceria mesmo de vida. É preciso conhecer a pessoa minimamente para poder começar a pensar em uma parceria e, a partir do momento em que essa possibilidade se apresenta, ela pode ser desenvolvida de inúmeras maneiras.

✎ Confira a transcrição completa da participação de Edu Krieger

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