Gabriel Moura

Gabriel Moura

✎ Perfil e músicas do compositor

Família musical

Gabriel Moura Boa tarde a todos, é um grande prazer estar aqui batendo esse papo e depois fazendo o show. Paulo Moura (que nomeia o teatro do Centro de Referência) é meu tio e todos os meus tios aprenderam música em São José do Rio Preto, a família Moura vem de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, e o meu avô era carpinteiro, e lá pelos 30 e poucos anos ele resolveu estudar música, e sozinho ele começou a estudar música. Aprendeu, foi desenvolvendo e montou uma banda dele, uma orquestra dele em São José do Rio Preto, de baile e ele também foi ensinando a todos os filhos dele. Era na época da guerra, e ele não queria que nenhum dos meninos dele fosse para guerra, para o front, então sendo músicos talvez fossem cantar ou algo parecido.

Eu acho que devo à minha musicalidade ao meu avô, que começou tudo isso na família, depois ser sobrinho do Paulo Moura, que foi o maior expoente da nossa família em termos de música, todos os tios foram, tocaram na orquestra sinfônica, tocaram em bailes de gafieiras.

Eu comecei em gafieira muito cedo, com 13, 14 anos. Entrava e já conhecia todos os seguranças, já conhecia o dono da gafieira, eu ia muito na Estudantina principalmente, também no Elite. Mas a Estudantina era praticamente a minha casa, porque meus tios todos tocavam lá, então já tive esse contato com a gafieira desde muito cedo e aprendi a admirar a música, os músicos, os metais, os sons do sopro, principalmente. Isso sempre me encantou muito, aí eu comecei também a despontar na música como compositor, eu fiz um samba para a Caprichosos de Pilares, em 1991, que foi para a avenida.

Eu tinha 22 anos, isso despertou a atenção do meu tio Paulo Moura que começou a me chamar para as coisas, me levou para o teatro e eu comecei a fazer trilhas para o teatro. Porque ele viu que eu tinha aptidão para compor.

Seu Jorge e o Farofa Carioca

Gabriel Moura Quando eu comecei a despontar musicalmente, eu comecei a tocar em bar, eu toquei muito aqui inclusive pela Tijuca, em bares que tinham por aqui. A Tijuca foi muito parte do meu começo musical. Eu também tocava muito no Meier, tinha um bar chamado Maritália. Eu tocava lá todos os dias e aí começou a aparecer o Seu Jorge, ainda ele nem era o Seu Jorge, era só Jorge, Jorge Mário, ele começou aparecer lá e era meu fã. Ele ficava lá vidrado, ele gostava muito desse repertório que tocava de MPB de música popular brasileira e ele era mais do rock, ele curtia Legião Urbana, imitava o Renato Russo e a gente ficou amigo. Eu praticamente trouxe ele para a música mesmo, eu dei aula de violão para ele e falava para ele tirar o Renato Russo da voz, falava para ele soltar a voz, nós ficamos amigos.

Ele estava passando uma fase difícil na vida dele, que ele estava realmente sem ter onde morar, o irmão dele tinha sido vítima de uma chacina em Belford Roxo e a família teve toda que sair de lá de Belford Roxo, e ele não pode ficar junto com a família. Enfim, vários outros casos que não vale aqui ficar se estendendo muito, mas ele ficou meio sem ter onde ficar mesmo e, quando eu o conheci no Méier, eu dizia para ele: “e agora você vai para onde?”, e ele dizia: “vou ali para casa da minha tia”. Ele tinha uma tia que morava no Méier, mas não podia dormir todos os dias na casa dela. Às vezes ele ia lá para casa e ficávamos lá. Eu o apresentei para o Paulo Moura, que adorou ele.

Ele é um cara sensacional, que tem um talento incrível, já naquela época, e aí começamos a fazer trabalhos juntos. O Paulo Moura, eu e ele. Logo depois, montamos um grupo chamado Farofa Carioca.

O Farofa era formado por músicos que não eram músicos profissionais de tocar com outros artistas. Eram músicos, como a gente falava, de calçada. A gente começou a trabalhar em 1997 e em 1998 assinamos com a gravadora, e antes mesmo de assinar com a gravadora a gente teve convite para tocar na Free Jazz. Éramos uma banda de calçada, mas cotada no mercado como uma banda de jazz brasileiro.

Então isso foi muito interessante e eu fazia esse meio de campo de ficar ali olhando para todo lado e distribuindo a bola e o Seu Jorge era o centroavante que ficava de fronte e marcava o gol. Eu realmente me posicionava nesse meio de campo para organizar as letras, para tentar fazer que aquela confusão de ideias tivesse uma direção; isso trouxe para mim também um estilo para o meu trabalho de composição, que é a coisa da música com mais balanço, mais cheia de suingue; quando eu comecei, eu não pensava nisso. Eu tocava Tom Jobim, Chico Buarque, tocava Caetano, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Milton Nascimento muito, eram os meus grandes ídolos e era a música que eu tocava no bar, mas, a partir do Farofa Carioca, eu descobri um estilo musical que eu venho trazendo ele, meio que transformando um pouquinho até hoje e continuamos parceiros até hoje, eu e Seu Jorge, os maiores sucessos da carreira dele são parcerias nossas.

O primeiro disco

Gabriel Moura Depois que o Seu Jorge saiu do Farofa eu comecei a ficar compondo muito sozinho e tentando fazer as coisas e criar o meu repertório para o meu disco, para o meu primeiro disco que foi o CD “Brasis”, que eu lancei em 2006. Para esse disco eu comecei a fazer músicas que tinham mais haver comigo, fiz uma música em homenagem ao Méier que fez parte da minha influência musical, eu morava no Lins e frequentava o Méier desde a adolescência. Então fiz uma música para o Méier, fiz uma outra música para o morro do Vidigal, eu estou sempre lá no Vidigal.

Para eu fazer esse meu primeiro disco eu tentei com alguns produtores, mas não estava curtindo muito, até que eu conversando com o meu tio Paulo Moura, ele perguntou se eu gostaria que ele produzisse o meu disco; eu disse que adoraria. Então, abandona tudo o que você já fez e vamos começar de novo. Eu já tinha gasto dinheiro, com outros produtores tentando fazer e aí eu pensei: produzir com Paulo Moura vai ser bacana porque é um maestro e tem outro entendimento da história e aí sim eu comecei ir para a casa dele e ele escrever tudo nas partituras, todos os instrumentos, tudo com calma e fomos para o estúdio e ele foi em todos os períodos de gravação. Regeu tudo do primeiro disco e assim foi feito.

Depois desse disco eu comecei a voltar com essa coisa de parcerias. Eu conheci o Rogê, que hoje em dia é o meu maior parceiro, que a gente tem um volume de trabalho muito grande, depois o Pretinho da Serrinha, que hoje também é um grande parceiro, mas o Rogê se tornou, assim, ocupou o espaço deixado pelo Seu Jorge.

Produção atual

Eu acho que hoje em dia o artista não pode mais ficar esperando, eu acho que hoje em dia o artista tem que ser mais que músico, tem que ser músico, cantor, compositor e ele tem que se articular, tem que ir aos lugares, frequentar, falar com as pessoas, se mostrar e divulgar na sua rede social.

Ele tem que aprender como funciona porque não é só divulgar no facebook, na rede social, é muito mais do que isso, é um canal que você faz no youtube, é uma série de coisas para você fazer com que você encontre o seu público. Porque o público está lá na internet e você pode achar ele na medida que você faça essa divulgação.

A música brasileira está num estágio que já se mantém há uns 30 anos, eu acho, que é depois dessa coisa que é o artista vender mais de um milhão de cópias, antigamente não tinha isso, na década de 1970, por exemplo, os artistas não vendiam um milhão de cópias. O Gilberto Gil foi vender um milhão de cópias há pouco tempo, com a música “Esperando na Janela”. Então a música brasileira começou a ser comandada pelos grandes empresários, que começaram a comprar o espaço na rádio e determinar o que vai ser tocado e o que vai ser tendência.

✎ Confira a transcrição completa da participação de Gabriel Moura

Um comentário em “Gabriel Moura

  1. Muito bom ver a entrevista toda escrita.
    Apesar de sair bem ao pé da letra, dá pra curtir e até dar umas risadas.
    Gostaria de deixar algumas correções:
    Os nomes dos bares na Tijuca: Velho Tio, Tia Lolla, Adega Navarone, Hobe Bar
    na José Higino. MaisValia em Vila Isabel e o bar no Méier Mai Tai.
    Foi um grande prazer participar do projeto e dar essa entrevista
    Abraço a toda a equipe e em especial ao amigo Edu Krieger
    Gabriel Moura

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